sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Avaliar com eficácia e eficiência

Texto 11

Vasco Pedro Moretto

Avaliar a aprendizagem tem sido um tema angustiante para professores e estressante para alunos. Nas conversas com professores, orientadores e diretores, o assunto avaliação é sempre lembrado com um suspiro de desânimo e uma frase eloqüente: "Esse é o problema aí está o nó!".

Muito se tem escrito e falado sobre a avaliação da aprendizagem. As dúvidas continuam, os pontos de vista se multiplicam e as experiências se diversificam. O sistema escolar gira em torno desse processo e tanto professores como alunos se organizam em função dele. Por isso a verdade apresentada é: professores e pesquisadores precisamos estudar mais, debater com profundidade e conceituar com segurança o papel da avaliação no processo da aprendizagem.

A avaliação da aprendizagem para alguns professores é aterrorizante pois não sabem como transformá-la num processo que não seja uma cobrança qualquer de conteúdos decorados, ou como no velho ditado, "aprendido de cor",  de uma forma mecânica e sem muito sentido para o aprendiz.

Para alguns pais a prova não exerce seu real papel, se a nota for razoável ou ótima, eles (os pais) ficam satisfeitos com o resultado, pois pressupõem que a nota transmite que a aprendizagem esta sendo correspondente, o que nem sempre é a verdade. E os aprendizes sabem disso, se a nota for ótima exibem para os pais e acabam ganhando "regalias" como aumento da mesa e passeios extras, além de ficar bem "visto" aos olhos dos pais taxado como um aluno exemplar.

A avaliação é parte integrante do ensino e da aprendizagem. O ensinar, um dia, já foi concebido como o transmitir conhecimentos prontos e acabados, conjunto de verdades a serem recebidas pelo aluno, gravadas e devolvidas na hora da prova. Nessa visão de ensino, o aprender tem sido visto como gravar informações transcritas para um caderno (cultura cadernal) para devolvê-las da forma mais fiel possível ao professor na hora da prova.

O processo de ensino nos dias de hoje é visto como tradicional, a avaliação de aprendizagem é encarada como um processo de "toma-lá-dá-cá", em que o aluno deve devolver ao professor o que dele recebeu e de preferência exatamente como recebeu, o que Paulo Freire chamou "educação bancária". Nesse caso não cabe criatividade, nem interpretação. A relação professor-aluno vista dessa forma é identificada como uma forma de dominação, de autoritarismo do professor e de submissão do aluno; sendo por isso uma relação perniciosa na formação para a cidadania.  

A perspectiva construtivista sociointeracionista propõe uma nova relação entre o professor, o aluno e o conhecimento. Ela parte do princípio que o aluno não é um simples acumulador de informações, ou seja, um mero receptor-­repetidor. Ele é o construtor do próprio conhecimento.

 A construção do conhecimento é um processo interior do sujeito da aprendizagem, estimulado por condições exteriores criadas pelo professor. Por isso dizemos que cabe a este o papel de catalisador do processo da aprendizagem.

Catalisar/mediar/facilitar são palavras que indicam o novo papel do docente no processo de interação com o aluno.

 
Prova: um momento privilegiado de estudo

A avaliação pode ser  feita de formas diversas, com instrumentos variados, sendo o mais comum deles, em nossa cultura, a prova escrita. Por esse motivo, em lugar de apregoarmos os malefícios da prova e levantarmos a bandeira de uma avaliação sem provas, procuramos seguir o princípio: se tiver que elaborar provas, que sejam bem feitas, atingindo seu real objetivo, que é verificar se houve aprendizagem significativa de conteúdos relevantes.

É  preciso ressaltar, no entanto, que a avaliação da aprendizagem precisa ser coerente com a forma de ensinar. Se a abordagem no ensino foi dentro dos princípios da construção do conhecimento, a avaliação da aprendizagem seguirá a mesma orientação. Nessa linha de pensamento, propomos alguns princípios que sustentam nossa concepção de avaliação da aprendizagem:

  •  A aprendizagem é um processo interior ao aluno, ao qual temos acesso por meio de indicadores externos.
  •  Os indicadores (palavras, gestos, figuras, textos) são interpretados pelo professor e nem sempre a interpretação corresponde fielmente ao que o aluno pensa.
  •  O conhecimento é um conjunto de relações estabelecidas entre os componentes de um universo simbólico.
  •  O conhecimento construído significativamente é estável e estruturado.
  •  O conhecimento adquirido mecanicamente é instável e isolado.
  •  A avaliação da aprendizagem é um momento privilegiado de estudo e não um acerto de contas.

Revoltado ou Criativo

Waldemar Setzer

A um tempo atrás recebi o convite de um colega para ser árbitro de revisão de uma prova de física, pois o aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma "conspiração do sistema" contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido.

Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova que dizia: "Mostre como se pode determinar a altura de um edifício bem alto com o auxílio de um barômetro".

A resposta do estudante foi a seguinte: "Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante-o, medindo o comprimento da corda; este comprimento será a altura do edifício."

A resposta dada pelo aluno estava correta, escrita de uma forma diferente da que o professor desejava mais estava certa. Entrando em acordos com ambas as partes, propus ao aluno reformular a pergunta em seis minutos. Ele ficou lá pensando olhando para o teto, e eu apressado pois havia outro compromisso logo em seguida e nada do aluno escrever. Passados cinco minutos e nada escrito. O aluno não havia desistido, na realidade ele tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a melhor. Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse. No momento seguinte, ele escreveu essa resposta: "Vá ao alto do edifício, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo (t) de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmula h = (1/2)gt2, calcule a altura do edifício." 

Um pouco inconformado o professor concordou em aceitar a resposta do aluno, afinal estava correta. Pode-se dar inúmeras respostas para uma dada pergunta e mesmo esta resposta sendo diferente daquela que o professor imaginava receber não se pode dar como "errado" algo que esta certo.

 
 A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta "esperada" para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.

Este texto nos remete a reflexão de como seé feito o processo de avaliação.  Em primeiro lugar chamamos a atenção sobre a forma de elaborar uma pergunta. Se a pergunta não for clara e precisa, ela permite muitas respostas, todas "corretas", embora diferentes das "esperadas" por quem perguntou. Em segundo lugar é certo que o contexto dá o sentido ao texto, assim alguém poderia argumentar que uma resposta numa prova deve ser dada em função do contexto do ensino, isto é de acordo com o que o professor apresentou em aula. 

A finalidade tanto do ensino como da avaliação da aprendizagem é criar condições para o desenvolvimento de competências do aluno, quanto mais completa for a formulação das questões, tanto melhor será a formação do aluno para sua vida profissional.

Para se entender melhor o processo de avaliação, ao longo de uma década mais de seis mil provas foram aplicadas em escolas de quase todos os estados do Brasil. Os resultados foram divididos em dois blocos, o primeiro voltado para o que chamamos de "características das provas tradicionais" e o segundo para "características das provas na perspectiva construtivista".

Eficácia e eficiência na avaliação da aprendizagem


A avaliação é eficaz quando o objetivo proposto pelo professor foi alcançado.

A eficiência está relacionada ao objetivo e ao processo desenvolvido para alcançá-lo. Para que a avaliação seja eficiente, é preciso que seja também eficaz. Da mesma forma, a avaliação pode ser eficaz sem ser eficiente. O professor tem que organizar de forma eficiente o processo da avaliação da aprendizagem.


Algumas características das provas na linha tradicional

a) Exploração exagerada da memorização

A memorização certamente tem seu lugar no processo da aprendizagem, desde que seja uma memorização acompanhada da compreensão do significado do objeto de conhecimento. O que a escola da linha dita tradicional explorou com mais ênfase foi a memorização em busca do acúmulo de informações, em grande parte sem muito significado para os alunos.

b) Falta de parâmetros para correção

Esta é uma característica encontrada em muitas provas e que deixa o aluno "nas mãos do professor". Com a falta de definição de critérios para a correção, vale o que o professor queria que o aluno tivesse respondido. Por isso, muitos alunos, em momentos de avaliação levantam a mão e perguntam: "Professor, o que o senhor quer mesmo nessa questão 5?". Note que o aluno não pergunta: "O que diz a questão 5?", mas quer saber o que o professor deseja. Ele sabe que, numa cultura de toma­lá-dá-cá, deve responder o que o professor quer, mesmo que na questão não esteja claro.

c) Utilização de palavras de comando sem precisão de sentido no contexto

 Toda pergunta busca uma resposta. A clareza e precisão da segunda dependerá muito da estrutura da primeira. Há palavras de comando usadas com muita frequência na elaboração de questões de prova e que não têm sentido preciso no contexto. Destaquemos algumas delas: comente, discorra, como, dê sua opinião, conceitue você, como você justifica, o que você sabe sobre, quais, caracterize, identifique as principais características. Não estamos afirmando que as palavras não podem ser utilizadas. O que dissemos é que elas precisam ter sentido no contexto em que são usadas permitindo a parametrização correta da questão.


1  Estabeleça, em redação sucinta, a diferença entre empresa e sociedade.

2  Na visão de Maquiavel, quais as principais formas de governo? Especifique a finalidade de cada uma.

3  Os Livros Sagrados são suscetíveis de interpretação? Comente.

4  Comente: "O ordenamento jurídico é um conjunto harmônico de regras que não impõe, por si, qualquer divisão, em seu campo normativo".

5  Discorra sobre a importância da data nas formas ordinárias de testamento.

Características das provas na perspectiva construtivista

Chamamos "provas na perspectiva construtivista" aquelas que são elaboradas segundo os princípios da perspectiva epistemológica apresentada nas páginas anteriores. As características foram estabelecidas por nós, num critério muito pessoal, em função de sua incidência nas provas analisadas e nos princípios do construtivismo sociointeracionista que serviram de parâmetros para a análise.

a) Contextualização

O texto deve servir de contexto e não de pretexto.


Quando falamos que uma questão deveria ser contextualizada, significa que, para responder a mesma, o aluno deveria buscar apoio no enunciado. Elaborar um contexto não é apenas inventar uma história, ou mesmo colocar um bom texto ligado ao assunto tratado na questão. É preciso que o aluno tenha que buscar dados no texto e a partir disso responder à questão.

b) Parametrização

A parametrização é a indicação clara e precisa dos critérios de correção. Nas páginas anteriores chamamos sua atenção várias vezes sobre esse ponto que é, a nosso ver, um dos fundamentais para uma relação profissional entre o professor e aluno, no processo da avaliação da aprendizagem.

c) Exploração da capacidade de leitura e de escrita do aluno

Ouvimos frequentemente dizer que nossos alunos não sabem ler nem escrever. No momento privilegiado de estudo – a prova –nem sempre lhes damos a oportunidade de fazê­-lo. Por isso indicamos como característica das provas na perspectiva construtivista a colocação de textos que obriguem a leitura, mesmo curta, para provocar uma resposta, também de forma escrita e com argumentação, que leve o aluno a escrever, exercitando-se na lógica e na correção do texto.

d) Proposição de questões operatórias e não apenas transcritórias

Questões operatórias são as que exigem do aluno operações mentais mais ou menos complexas ao responder, estabelecendo relações significativas num universo simbólico de informações. Já as questões transcritórias são aquelas cuja resposta depende de uma simples transcrição de informações, muitas vezes aprendidas de cor (quando não transcritas de uma "colinha") e normalmente sem muito significado para o aluno em seu contexto do dia-a-dia.


Crítica

Particularmente achei este texto ótimo, abordou a questão do processo de avaliação de uma forma muito suscinta, sem rodeios deixando o leitor bem informado do assunto.

Já não é de hoje que este assunto "AVALIAÇÃO" é polêmico e por certas vezes causa pânico no aluno, pois cada docente possui uma forma diferenciada de ministrar sua aula e de aplicar a avaliação.

A avaliação escolar avaliação é a reflexão transformada em ação, que impulsiona a novas reflexões. Cabe ao educador uma reflexão permanente sobre a sua realidade, um acompanhamento contínuo do educando, na trajetória da construção do conhecimento.

Lendo outras fontes sobre este assunto, encontrei algumas definições a cerca da avaliação e achei interessante, por este motivo irei colocar algumas no contexto desta crítica.

  • Luckesi (1996), "é como um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista  uma tomada de decisão".
  • Souza (1992 ) , "a avaliação exerce um poderoso controle sobre o conhecimento, porque o aluno ' estuda ' para fazer prova, responde corretamente aquilo que nem mesmo compreendeu, sem esquecer que as questões são mal formuladas e permitem várias interpretações".
  • Moretto (1996, p. 1) "a avaliação tem sido um processo angustiante para muitos professores que utilizam esse instrumento como recurso de repressão e alunos que identificam a avaliação como o "momento de acertos de contas", "a hora da verdade", "a hora da tortura".
  • Gadotti ( 1984 ), diz que "educar é fazer ato de sujeito, é problematizar o mundo em que vivemos para superar as contradições, comprometendo-se com esse mundo para recriá-lo constantemente".
A  avaliação tem como dimensão o desempenho do aluno, e o professor é o mediador, pois é ele que terá o papel de avaliar o aluno de acordo com suas demonstrações de aprendizagem ou não no assunto tratado em aula, mais muitas vezes os alunos levam as aulas com "a barriga" e não estudam, quando o docente fala "vamos ter prova dia..." aí todos ficam desesperados querendo dar conta da matéria dada até o momento. Isso é uma coisa totalmente errada, claro já passei por esta fase de "não estou nem aí para o estudo" ou até mesmo "ai estudar é um saco", mais isso tudo é para o futuro do jovem e somente ele é capaz de mudar tão pensamento.

Tudo muda, tudo se transforma e algumas coisas mudam para melhor e outras nem tanto, no caso sas avaliações também ocorre desta maneira, de acordo com o tipo de professor a avaliação será passada de uma forma diferente, por exemplo, tem professores que não aplicam provas e simplesmente observam o desempenho do aluno em classe e sua participação em sala, outros já aplicam inúmeras provas achando que essa é a melhor maneira de saber se o seu método de ensino esta fluindo. Nossa, até hoje existem professores tradicionalistas ao extremo, onde são tão "fechados" para as mudanças, outros são "tapados" no quesito "não posso ser contrariado", essas coisas pequenas muitas vezes acabam bloqueando o aluno com aquele professor e aí mesmo que o aluno irá se dar mal na disciplina, coisas forçadas aos alunos não fluem legal e eles acabam pegando "medo" do mesmo.

O professor deve ver seu aluno como um ser social e político, construtor do seu próprio conhecimento. Deve percebê-lo como alguém capaz de estabelecer uma relação cognitiva e afetiva com o seu meio, mantendo uma ação interativa capaz de uma transformação libertadora e propiciando uma vivência harmoniosa com a realidade pessoal e social que o envolve.

Talvez algum dia tudo mude mais até lá ainda teremos esses lemas e dilemas no processo de avaliação mais até esse dia chegar todos devem ficar atentos, pois não é só os professores que devem puxar seus alunos para o estudo, os pais exercem uma função primordial nesta questão, é de casa que se tem o incentivo e a determinação para nunca desistir quando nos deparamos com alguma dificuldade aparente.

A avaliação tem um significado muito profundo, à medida que oportuniza a todos os envolvidos no processo educativo momentos de reflexão sobre a própria prática. Através dela, direciona o trabalho, privilegiando o aluno como um todo, como um ser social com suas necessidades próprias e também possuidor de experiências que devem ser valorizadas na escola. Devem ser oportunizados aos alunos os conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade.

Para deixar claro...

Avaliãção educacional =>  é uma tarefa didáctica necessária e permanente no trabalho do professor, ela deve acompanhar todos os passos do processo de ensino e aprendizagem. É através dela que vão sendo comparados os resultados obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos, conforme os objectivos propostos, a fim de verificar progressos, dificuldades e orientar o trabalho para as correcções necessárias.


A avaliação é um elemento muito importante no Processo de Ensino e Aprendizagem, porque é através dela que se consegue fazer uma análise dos conteúdos tratados num dado capítulo ou unidade temática. A avaliação reflecte sobre o nível do trabalho do professor como do aluno, por isso a sua realização não deve apenas culminar com atribuição de notas aos alunos, mas sim deve ser utilizada como um instrumento de colecta de dados sobre o aproveitamento dos alunos. Esta, porém, determina o grau da assimilação dos conceitos e das técnicas/normas; ajudam o professor a melhorar a sua metodologia de trabalho, também ajuda os alunos a desenvolverem a auto confiança na aprendizagem do aluno; determina o grau de assimilação dos conceitos.


3 comentários:

  1. Parabéns pela sua produção...vai muito além do que foi solicitado, buscando outras referências, indicando referências, incluindo imagens :)

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  2. OBRA MUITO DESLUMBRANTE.ME AJUDOU A FAZER O TRALHO.

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  3. Excelente artigo. Pode estar me passando as referencias por favor?

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